Cortar uma fotografia

Fazer ou não? Se for fazer o quanto fazer?

Flavio RB
Sobre Fotografar
Published in
3 min readMar 30, 2019

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[Este texto foi publicado originalmente, em 2019–01–05, no forum.fotobrasil.org, visite e deixe seu comentário por lá.]

Outro dia (2018–12–08), “pincei” esse tema em uma conversa entre uma amiga e um amigo (eu estava ao lado deles) no encontro do clube de fotografia.

Em parte, senti como se a amiga tivesse feito a pergunta para mim no meio de outros assuntos que estavam rolando.

Como não consigo tamanho domínio de interação social e me pareceu que havia outro foco principal se desenrolando na conversa, deixei o “tema” passar para não interromper um assunto (nem sempre eu ajo assim, as vezes consigo). Mas, agora, resolvi escrever sobre o o tema.

Eu não costumo cortar minhas fotografias nem quando tenho uma com o horizonte torto. Inclusive tenho fotos legais que descartei (estão guardadas, mas não posto ou mostro) por causa do horizonte torto e não desejar cortar para acertar.

O que me faria cortar uma imagem? Eu desejar muito poder mostrar por achar que seja uma foto extremamente interessante e bela e que eu não consiga fazer nunca mais outra semelhante (pensada, montando a cena, esperando no local por dias) sem fazer o corte.

Pessoalmente eu não acho que cortar uma foto seja demérito, mas eu não faria um corte apenas para mostrar algo diferente que não vi na hora de fazer a foto.

Essa é uma questão pessoal e não a levo como um julgamento sobre a qualidade do trabalho de ninguém.

Eu acho que todo recurso disponível é válido para uma fotografia. Com certo limite.

Colar uma imagem sobre outra para fazer algo que não é possível ser feito em uma fotografia, na minha opinião, é deixar de fazer fotografia e passar para outro tipo de atividade. Mas, isso é assunto para outro momento.

Passada essa questão pessoal e esclarecido que na pós produção quase tudo é válido para se passar o que se deseja na fotografia. Um corte, seja para apresentar outra possibilidade de enquadramento, seja para acertar um horizonte torto numa foto feita “no susto” e que não se repetirá, é um recurso válido.

Mesmo sendo um recurso válido, é preciso ter cuidado.

O quão grande é o corte e o quanto isso vai fazer aparecer “defeitos” numa possível ampliação da sua fotografia?

Isso vale tanto para um corte num arquivo digital quanto para um corte num negativo fotográfico.

Qual o tamanho da ampliação e a distância que essa ampliação será olhada?

Isso mesmo, fazer um corte que deixe a sua imagem com 600 x 900 pixel pode resultar numa fotografia que será vista bem no computador ou televisão(*) olhada a uma distância confortável para se ver a tela inteira.

Mas, essa mesma imagem (de 900 x 600 pixel), poderia ser impressa a, no máximo, 12 x 18 cm (**), sem nenhum recurso adicional de interpolação, para ser olhada a, no mínimo, 20 cm de distância (***). Isso, supondo que a região do corte esteja com boa nitidez e sem captura de defeitos óticos da lente.

Finalizando

Cortar uma parte pequena do entorno de uma imagem para acertar um horizonte ou corrigir perspectiva (quando se usa uma grande angular apontando para cima em fotografia de arquitetura, por exemplo), trará pouco [ou nenhum] problema para a imagem final.

Mas, fazer um grande corte para “tirar” uma outra fotografia da sua fotografia original. Pode acarretar limitações ao resultado final de apresentação da fotografia (uma ampliação grande, por exemplo).

Cortar ou não, sempre será uma decisão do fotografo no processo de pós produção. Mas, é preciso estar consciente de tudo o que qualquer dessas decisões de pós produção possam implicar.

É preciso lembrar que não existe mágica.

Pegar a placa do carro pelo reflexo no óculos de uma pessoa capturada pela imagem da câmera do caixa eletrônico do banco é coisa de cinema. Não é real. A câmera não tem tanta resolução e a lente não é tão boa, além desta estar regulada para fazer foco na distância de quem está sacando o dinheiro.

(*) Note que uma televisão full-HD tem resolução de 1920x1080 pixel. Sua imagem cortada no tamanho indicado não ocuparia a tela inteira, salvo se fosse interpolada para gerar mais pixels.

(**) Seria uma impressão, supondo que um pixel da imagem digital seja equivalente a um ponto de impressão, a 120 DPI (aproximadamente).

(***) É confortável olhar uma imagem a mesma distância que o comprimento de sua diagonal.

Uma fotinha para o texto ficar bonitinho — Ninfeia — Jardim Botânico do Rio de Janeiro — 2018–12–16 0020 0031 — © Flavio RB

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