Dez anos de um caminho

Meu começo e recomeço na fotografia, continuando com o que gosto em novos projetos

Flavio RB
Sobre Fotografar
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9 min readNov 27, 2018

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Nesse texto coloco um pouco de meu caminho na fotografia, meu hobby que não devo levar para profissão.

Também tem um pouco de desabafo sobre algo que perdi no meio do caminho e me dou uma esperança de recomeço.

Hoje (2018–11–27), completo dez anos da aquisição de minha primeira câmera fotográfica digital reflex (DSLR), que foi uma Canon EOS Rebel XSi (também conhecida como Canon EOS 450D) com a lente básica do kit.

Esse é um marco para mim. Eu não imaginava que um hobby pudesse durar tanto comigo. Mas, nesse caminho, relembrei que sempre tive fascinação por fotografia. Talvez o interesse fosse mais pelo aparelho que meu pai utilizava — fazia um barulho e depois de algum tempo podíamos ver o momento que passou — que pela fotografia em si.

Peguei o gosto pela fotografia do meu pai. O primeiro livro de fotografia que eu li era dele. O livro já estava em estado ruim de conservação como vários livros em casa (crianças, livros e canetas com fácil acesso, resultado?), mas li sem nem mesmo pensar que eu fotografaria algum dia. Me fascinava aquela mágica que acontecia.

Mexi em câmeras e lentes, com ou sem a supervisão e autorização do meu pai. Comecei a aprender o básico e a parte da química lendo aquele pequeno livro (tenho guardado e comprei, recentemente, um exemplar da mesma edição, em melhor estado, num sebo).

Bem mais tarde, li outro livro (acho que um da Kodak) que um colega, do alojamento de estudantes, tinha. Ele me mostrou a câmera dele também. Nessa época eu nem sonhava em ter uma câmera para fotografar.

Pequena cronologia com marcos temporais do antes desse início quando realmente fotografei e, eventualmente estudei fotografia (depois do que foi narrado acima):

  • 1992 — assisti, como ouvinte, às disciplinas Fotografia I e II do curso de Desenho Industrial da Escola de Belas artes da UFRJ;
  • 2003 — voltei a ter uma câmera de filme para fotografar, não estudei e a usei muito pouco;
  • 2006 — comprei minha primeira compacta digital (ela tinha opção manual) era limitada, mas me deu um gostinho;
  • 2008 — início para o meio de novembro, um colega do trabalho comprou uma DSLR e eu fui pego novamente pela vontade de fotografar, pesquisei muito a tecnologia envolvida e várias descrições de equipamentos, esse é o marco de início;
  • 2008–11–27 compra da primeira DSLR.

Terminado o resumo da pré-história, vamos ao que veio depois da aquisição sem ter uma cronologia exata:

  • Comecei a participar do Fórum Clube FotoRio, que se tornou o Fórum RioFotográfico e hoje é a Associação Fotográfica RioFotográfico (não mais tendo um fórum) onde pratiquei muito o compartilhar o que aprendi com os amigos (*):
  • Aprendi muito e decidi que devia compartilhar o que aprendia de forma organizada;
  • Participava de saídas organizadas pelos colegas e segui o legado organizando saídas;
  • Vi colegas ensinando pelo prazer de ensinar e segui fazendo.

Muita coisa se passou, dá para fazer um grande livro de histórias, mas não será aqui e nem hoje, pois tenho que dizer o que vem de mudanças para mim.

Para começar novos projetos é preciso desapegar dos antigos.

Meu caminho de aprender sempre passou pelo ensinar

Eu sempre digo que aprendo muito quando estou ensinando. É assim na minha profissão, é assim no meu hobby e é assim em qualquer coisa que eu goste de estudar. Eu acabo explicando, para quem ainda não estudou, as coisas que estou aprendendo.

Minhas conversas (o ser social que vocês conhecem) sempre tem relação com coisas que eu leio e estudo. Até mesmo quando falo de mim uso o algo que estudei ou, ao menos, li uma quantidade grande de textos interessantes.

Nos estudos tenho muita facilidade para assuntos voltados a tecnologia. Assim, todos os meus colegas da fotografia, me veem como alguém que estuda muito e pode estar apto a responder uma infinidade de questões relacionadas a parte técnica ou operacional do fazer fotografia.

Eu gosto disso e durante um bom tempo fiz isso com certa consistência, respondendo questões no fórum do Clube FotoRio (depois no fórum do RioFotográfico — o novo nome), respondendo questões Yahoo!Respostas, escrevendo textos no meu blog (alguns foram para revistas impressas), conversando com colegas nas saídas e encontros, respondendo perguntas por email (alguns viraram textos no blog), organizando saídas orientadas no clube de fotografia (RioFotográfico), organizando turmas de minicursos, várias outras coisas.

Quase sempre sou lembrado, no clube de fotografia, quando alguém tem alguma questão técnica.

Gosto muito disso, não há dúvida. Mas, estou cansado.

Da mesma forma que me cansei do Yahoo!Respostas, sempre as mesmas questões se repetindo:

  • Que câmera comprar?
  • O que fiz errado nessa foto?
  • Como fazer foto profissional?

Eu não me cansava no fórum, pois lá uma pergunta repetida podia ser respondida facilmente, colocando o novo tópico dentro de um tópico antigo. Então, a pessoa lia o texto antigo e ficava satisfeita ou acrescentava novas abordagens, enriquecendo muito o o conhecimento coletivo.

Mas, depois do fechamento do antigo fórum do clube de fotografia, como consequência do esvaziamento de participação no espaço (efeito facebook), notei que no facebook não parece haver o interesse (além do ambiente não propiciar) em conversas mais profundas.

Existe um imediatismo e a não busca pelo que já se conversou antes. No facebook parece existir um imediatismo onde a intenção de “aprender o truque fácil” acaba com o estudo mais elaborado.

Pareço depressivo, mas é só um momento de transformação. Esse momento me faz querer buscar um ambiente e novas atividades dentro da fotografia.

Dez anos é momento de comemorar, mas também momento de renovar

Assim, decidi parar com muita coisa que eu estava fazendo de forma já desleixada e sem carinho. O que não me serve mais deixará de ser feito, o que me motiva será renovado. Mas, o que é isso na prática?

Não organizarei mais turmas de minicursos e saídas orientadas

Isso quer dizer que eu não vou mais ministrar cursos ou fazer uma saída orientada? Claro que não.

Isso que dizer exatamente o que está escrito.

Eu não organizarei mais turmas ou grupos para essas duas atividades.

Mas, se houver interesse não somente manifestado e me perguntando quando será a próxima (eu não vou organizar), eu posso fazer.

Se você tem interesse em algo que eu já organizei alguma vez (vou colocar uma lista em breve, existia no antigo fórum, mas…), pode vir conversar comigo já com uma lista de colegas que desejam e já tendo ideia de finais de semana (para o caso das saídas) e do dia da semana a noite para a parte teórica, se houver.

Vamos combinar o dia (ou os dias), agendar e teremos a atividade para aquele grupo que se reuniu. Eu não vou organizar o grupo, cansa muito, um monte de gente diz que quer e um monte de gente acaba não indo.

Já me falaram para eu cobrar que a pessoa acaba se comprometendo para não perder o dinheiro. Mas, eu não quero fazer disso profissão ou fonte de renda (quando cobrei foi por achar que eu estava tirando de quem tem isso como profissão).

Não tentarei mais conversar de técnica, tecnologia ou aspectos mais abstratos da fotografia no facebook

Minha última tentativa disso foi com o grupo que eu criei para o minicurso de medição de luz e que se transformou na tentativa promover a prática fotográfica (seja lá o que isso queira dizer).

Não deu certo. Em parte por minha culpa, mas o ambiente do facebook promove muita distração e o grupo estava sendo mais um grupo para se postar fotos e se receber curtidas. Isso não acrescenta nada.

Não existia a motivação para conversar sobre como a foto foi feita, sobre o que se deseja com a fotografia, sobre propor e realizar práticas?

Eu tentei motivar o “contar a fotografia” com a série de textos Foto Contada, que está quase no final mas terá um tipo de continuidade (mais informações, um pouco, seguindo o texto).

Pode ser que a culpa não seja do facebook, mas minha. Eu mesmo não estava promovendo (fomentando) esse diálogo. Mas, noto que, quando se tenta (eu e outros também) fazer esse tipo de coisa, a conversa parece morrer sem respostas nos grupos do facebook.

Assim, vejo duas possibilidades:

  • O que eu tento fazer não está sendo mostrado na plataforma (mesmo dentro dos grupos); ou
  • Ninguém está interessado na troca de conhecimentos.

Não era isso que eu via dentro do antigo fórum.

Então, creio que o problema possa ser o ambiente (facebook) com as pessoas viciadas na satisfação imediata da coleção de curtidas.

Eu desejo uma crítica sincera (e educada), a troca de conhecimentos e experiências. Dispenso curtidas e elogios vazios e ver foto sem foco, tremida com horizonte torto (sem motivo para isso, podem existir) com várias curtidas e elogios “linda foto”, num concurso de popularidade virtual.

Continuarei com saídas para fotografar

Isso é algo que sempre me perguntam. Parece que eu virei algum referencial de organização de saídas.

Mas, organizar uma saída é eu me colocar a disposição das pessoas que estão na saída. Eu tento chegar antes da hora marcada, tento fazer com que seja uma saída minimamente organizada. Não crio roteiro, é certo, mas estou presente e tento estar a disposição.

Organizar uma saída, para mim, não é algo divertido (participar é). Então continuarei organizando poucas e não adianta ficar me perguntando quando tem mais — quando eu puder fazer faço.

Dois novos projetos

Um não tão novo pois já era ideia no grupo de prática fotográfica que eu acabei e outro comentado com apenas algumas poucas pessoas.

Ambos ainda dependem de umas questões técnicas para a troca de ideias em um ambiente virtual (pela Internet). Esse ambiente, definitivamente, não será o facebook.

A prática fotográfica não acabou com o fim do grupo de mesmo nome no facebook

Criarei listas de exercícios para se praticar diversos tópicos da fotografia, de questões básicas até assuntos bem específicos.

Não tenho nada pronto, mas farei com carinho e espero que isso movimente a troca de ideias e o espírito de cooperação, colegas se ajudando.

Quem sabe não motive, também, o sair junto para praticar.

Indo além do Foto Contada

O Foto Contada, nasceu de uma necessidade minha de ir um pouco além da parte técnica da fotografia.

Eu queria contar um pouco do meu processo de fazer a fotografia, só que fiz muito pouco disso, pois acabei dando mais detalhes técnicos explicando um pouco de como estava o dia (importante, pois os dados da fotometria não são nada se não se sabe como estava a luz).

O novo projeto passará por isso. Eu pretendo contar não a parte técnica da fotografia, mas o que eu fiz e como pensei e que passos de estudo da cena eu fiz para realizar o que foi feito.

Nesse novo projeto, convido quem estiver com vontade de ir além de contar a foto, passar a mostrar o como pensou a foto afazer junto comigo.

Me inspiro num exercício no curso de básico de fotografia que fiz na UERJ, no meio de 2009 com o professor Eires Silveira (**). Na primeira aula, o Eires pediu que cada aluno, com a câmera dele, entrasse numa sala e fizesse uma foto (somente uma) sem olhar a foto dos colegas. Ele, queria ver o olhar de cada um antes do curso.

Então, nesse novo projeto, que chamarei de “Foto Pensada”, convido os colegas a participar (ainda faltam alguns detalhes técnicos para a troca de ideias — não será no facebook — em ambiente virtual) para caminhar por um fazer fotografia de forma mais pensada.

Vamos esquecer detalhes técnicos e nos concentrar na composição e no pensar a o fazer a fotografia.

Finalizando

Esses dois projetos já devem estar melhor formatados até o final do ano.

As questões de ambiente virtual para a troca já deve estar resolvida também um bom amigo está se empenhando nisso.

Agora é partir para as realizações. Mas, lembrem-se que seremos uma coletividade trocando experiencias. Hoje ensino por ter quem me ensinasse ontem, amanhã quem eu ensinei dará continuidade ensinando outros.

O espírito é de solidariedade não de competição.

Até mais e vamos conversando.

(*) Eu já tinha um pouco disso vindo do Movimento do Software Livre e no Clube FotoRio pude exercitar mais.

(**) Sim, fiz novamente um curso de básico de fotografia mesmo já sabendo. Ir para a fotografia digital me deu deixou preguiçoso (ver na hora me fez tomar o caminho fácil de tentativa e erro em vez de pensar na fotometria). Cursar novamente o básico me fez voltar para o caminho de pensar antes de disparar.

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