Minha história na fotografia

Contando um pouco a minha história na fotografia

Flavio RB
Sobre Fotografar
Published in
7 min readJul 24, 2020

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Eu posso dizer que sempre (sempre mesmo) gostei de fotografia. Pelo que me contam eu não deixava meu pai sossegado para fotografar e desde muito pequeno costumava o imitar segurando a câmera quando ele ia nos fotografar.

Isso pode ser visto na foto abaixo onde eu não estou tapando o sol nos meus olhos, mas imitando meu pai a segurar a câmera.

Foto em preto e branco de três crianças.
Foto de Amilton Barcellos (meu pai) — Eu sou o menor os outros dois são os meus irmãos.

Existe uma outra foto, não tenho a digitalização ainda, onde eu estou segurando o estojo de couro da câmera.

Não devia ser fácil para meu pai me fotografar

Alguns anos mais tarde. Meu pai, finalmente, me deixou fazer a minha primeira fotografia. É claro que ele regulou tudo, apesar de eu já andar lendo o livro (rabiscado e com páginas faltando, pelo meu irmão mais velho quando bem criança) que eu herdei e, mais tarde encontrei um a venda num sebo virtual (tenho os dois, agora).

Lá fui eu, feliz e contente, fazer a minha primeira fotografia:

Foto em preto e branco, amarelada pelo tempo e resto de fixador de um casal sentado. A foto está mal enquadrada.

Quem olha essa foto ter certeza que eu no devia levar muito jeito para a coisa [risos]. Mas, eu posso explicar.

Era uma câmera reflex (uma Asahi Pentax Spotmatic) e, no momento que disparei, me movimentei junto com o espelho. Eu nunca tinha disparado uma câmera, ainda mais uma reflex. Já tinha olhado a imagem direta no despolido de projeção de uma Flexaret.

Passaram alguns anos em que eu não fiz foto alguma. Mas, a curiosidade de criança, me levava a mexer nas câmeras para entender o que eram os ajustes que eu lia no pequeno livro.

Lembro que tive uma pequena câmera de filme em cartucho da Agfa, mas as fotos que fiz acabaram nem sendo reveladas, pois não se encontrava quem fizesse revelação daquele filme com fotogramas pequenos (devia ser um cartucho 110 com filme 16 mm), ou era caro demais para as condições que tínhamos na época.

Vira o pano e nova cena

Já estava na faculdade (primeira tentativa), morando no alojamento de estudantes da UFRJ, devia ser 1988. Um colega de módulo me mostrou a câmera fotográfica dele e eu fiquei vidrado, ele me explicou um pouco (eu já sabia bastante de ler, mas fiquei quieto). Depois ele me emprestou um livro (acho que era da Kodak) que devorei em uma semana. Mas, acabei não praticando fotografar, ele até me emprestaria a câmera, mas eu não tinha dinheiro sobrando para filme e revelação.

Finalmente 1992

Segundo semestre de 1992 na faculdade, eu era estudante de matemática e, no primeiro semestre tinha começado a namorar uma estudante do curso de Desenho Industrial no semestre anterior.

Ela ia cursar a disciplina Fotografia I, naquele segundo semestre, e eu decidi que iria assistir as aulas como ouvinte até que o professor recebesse pauta e me mandasse sair. O laboratório tinha acabado de ser reaberto e era a primeira vez que a disciplina seria ministrada em alguns semestres.

Já sabíamos que ela teria que comprar uma câmera, seria necessária a partir da terceira aula (isso foi dito para ela quando conseguiu a vaga na disciplina na matrícula).

Na primeira aula, o professor — Jaques — falou do curso o que iríamos fazer (fotografar e laboratório) e comentou sobre possibilidades de câmeras. As mais comuns eram a Pentax K1000 e uma Zenit (não sei o modelo) devido a serem as mais em conta.

Saímos da aula e fomos para o centro da cidade (Rio de Janeiro) ver lojas de câmeras. Andamos muito em várias lojas.

Então, eu sugeri que fossemos numas lojas de usados que fossem boas oficinas. Encontramos nossa Olimpus OM-1n numa loja na Praça Tiradentes. Estava impecável, o dono da loja/oficina nos mostrou (meu pai o conhecia e eu sabia que não era desonesto). A câmera estava o mesmo preço da Pentax K-1000 nova, mas tinha algumas vantagens. Era menor, tinha menor tempo de exposição, temporizador e a lente que vinha era bem melhor que a lente da Pentax. Todo o conjunto estava impecável, sem marcas, revisado na oficina da loja e com garantia maior que a Pentax K-1000 nova. Compramos.

Assistindo aula e frequentando o laboratório

Tudo o que o professor explicava nas primeiras aulas eu já sabia, era só teoria e eu já tinha lido e mexido em câmeras. Não era novidade.

Até a parte do laboratório, eu já tinha lido no pequeno livro do meu pai. Ao ver, foi como se eu sempre tivesse feito isso. Tanto, que na primeira semana ajudei o funcionário técnico do laboratório — Marcos (*) — com a preparação dos químicos e revisão final das coisas do laboratório. Interessante que o Marquinhos nunca me perguntou se eu já tinha estudado fotografia, ele me pedia e eu ia fazendo, simples assim.

Na segunda semana, as duas turmas já tinham adquirido em conjunto três ou quatro bobinas de filme 135 para rebobinarmos nos cartuchos que tínhamos conseguido nas lojas de revelação.

Lembro de ter desmontado e verificado dezenas de cartuchos de filme 135 vazios (um trabalho chato e repetitivo, mas bem simples para mim).

Depois, eu e dois outros alunos rebobinamos filme, íamos revezando (só tinham duas rebobinadoras manuais), mas eu era o mais rápido e preciso para, fazia sem me cansar. Naquele período todo aluno deve ter usado ao menos um cartucho de filme rebobinado por mim.

A primeira saída para fotos

Foi nos jardins do pátio da reitoria. Lembro que muita gente dividia câmera (nem todos compraram) eu dividi com a namorada, mas como ela era a alna e eu o ouvinte só fiz quatro fotos daquele rolo (anotamos o número da sequência para não confundir). Tivemos alguns exercícios que só ela fez, não precisaria mostra ao professor, era só para começarmos.

Queimado o primeiro filme, veio o dia do laboratório.

O primeiro filme no tanque de revelação

Novamente, eu era o ouvinte e ela era a aluna. Então, eu mostrava para ela, treinamos muito com filme velado olhando e sem olhar, pois na hora seria no escuro.

Fomos para a sala escura, eram quatro alunos por vez e o Marquinhos deixou eu entrar (ele já sabia que eu não era aluno regular).

Filme no tanque e eu ajudei vários alunos na revelação, explicando o movimento do tanque e como colocar e retirar os químicos sem acidentes.

O fatídico dia da chegada da pauta

Essa foi contada pelo Marquinho.

O dia que a pauta chegou o professor Jaques foi falar para ele me avisar que eu não estava na pauta e que era para eu procurar a secretaria e regularizar a situação. Então, ele me disse que falou para o Jaques:

Professor, o Flávio não é aluno do Desenho Industrial, nem da EBA (**). Ele é aluno da Matemática e está aqui de ouvinte.

No que o Jaques respondeu:

Então, ele não pode continuar assistindo as aulas. Terá que sair da turma.

E o Marquinhos replicou:

Se o Flávio sair, eu perco o monitor. Ficamos dois anos sem laboratório e sem turmas, não teve aluno antigo querendo ser monitor e o Flávio ajuda um bocado a mim e aos outros alunos.

E o Jaques se rendeu:

Então, o Flávio fica.

Assim, eu continuei assistindo as aulas e ajudando os alunos no laboratório. Também fiz, revelei e ampliei algumas “fotinhas” minhas.

Fotografia II

Eu havia passado um período inteiro ocupando quase todo o meu tempo livre indo para o laboratório de fotografia. Eu não estava pensando em assistir como ouvinte a disciplina Fotografia II. Mas, a turma da Programação Visual (Design Gráfico) seria a tarde e ela trabalhava a tarde o que impedia ela de cursar e isso iria atrapalhar bastante a conclusão do curso (***) para ela.

Então, ela foi conversar com o Professor de Fotografia II para o curso de Programação Visual, prof. Vitorino. O Jaques seria o professor da turma de Projeto de Produto e primeiro ela tinha ido verificar se ela poderia cursar pela manhã, o que não foi possível devido a diferença do enfoque nos tópicos.

A ementa era a mesma, mas o enfoque era diferente:

  • Para Programação Visual, se dava maior atenção as manipulações de laboratório; e
  • Para Projeto de Produto, a atenção era em still (estúdio e iluminação de produto).

Quando ela foi conversar com o Vitorino, ele não deixou ela fazer somente os trabalho pegando a matéria com outros alunos. Mas, então ele se lembrou de mim (o Marquinho e o Jaques devem ter falado para ele) e pergutou se ainda estávamos namorando.

Resumindo, eu fiquei encarregado de assistir as aulas a tarde (para passar a o conteúdo para ela). Também continuaria, auxiliando os outros alunos no laboratório, junto com o Marquinhos e este ficaria de olho para que eu não fizesse as atividades no lugar dela (quando fosse ela fosse no laboratório eu seria vigiado).

E foi assim que eu acabei aprendendo e fazendo muitas atividades de laboratório preto e branco.

O gosto pela fotografia estava formado

Agora eu sabia que gostava de fotografia, mas confesso que fotografei muito pouco e os conhecimentos só vinham a ser utilizados nos passeios de turismo. Onde, normalmente, quem fotografava era a minha esposa (eu e a namorada nos casamos no final de 1993).

Fiquei assim fotografando esporadicamente e a auxiliando em alguns projeto em que ela usava fotografia, durante todo o nosso tempo de casado (no separamos em 2001). Mas, não estudava mais fotografia.

O que veio depois

Foi um tempo sem fotografar, a aquisição de uma câmera de filme em 2003 que usei muito pouco (fiz algumas fotos de passeios somente) e mais tarde a primeiro compacta digital.

Essa compacta digital, adquirida em 2006, tinha ajustes manuais simples e eu tive, novamente, um gostinho pela fotografia. Esse gosto ficou só no gosto até o final de 2008, quando eu comecei a estudar e me dedicar a fotografia como um hobby de forma séria.

Eu contei um pouco (bem pouco) disso como introdução a um texto comemorativo dos 10 anos de eu estar estudando seriamente fotografia.

No texto eu também faço algumas resoluções, que ando cumprindo.

Se tiverem curiosidade:

(*) Chamávamos de Marquinhos.
(**) Escola de Belas Artes da UFRJ.
(***) Com a volta do laboratório, a disciplina Fotografia I e II passaram a prender a grade curricular, na ausência do laboratório, isso tinha sido abolido com algumas matérias substitutas.

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